Cinderelas, bailes e rainhas de festas


Este fim-de-semana assisti a um programa na televisão onde foi referida a cidade do Cubal, um dos locais onde vivi em Angola. Parte da importância deste local era devido ao facto do Caminho de Ferro de Benguela ter aqui algumas das suas oficinas mais importantes. Anteriormente o Cubal tinha-se destacado por ser um concelho rico, devido às grandes fazendas de sisal. Porém, com o aparecimento de materiais plásticos o valor deste produto caiu nos mercados internacionais de tal forma que o Cubal que eu conheci no início da década de setenta já pouco tinha a ver com o seu esplendor anterior.

Como todas as terras tinha as suas particularidades e uma delas era o facto de ser uma cidade com uma percentagem grande de população jovem, o que lhe dava grande animação. Existiam mesmo dois grandes clubes, que estavam constantemente a organizar festas. Por isso, me lembrei de um dos livros que mais gostava quando era criança, A Gata Borralheira, que permitia visualizar em relevo os episódios mais significativos desta estória. Também no cubal existiam cinderelas e príncipes que durante a semana estudavam e pensavam no próximo baile.

Recordo-me que eram sempre festas que começavam ao sábado, salvo erro depois do jantar, e tinham continuação no dia seguinte à tarde, prolongando-se depois até à meia-noite. Hora à qual as cinderelas eram conduzidas rapidamente para casa, por uns pais já cansados de tanta festa. O programa não variava muito. As famílias reservavam as suas mesas e levavam por vezes alguns doces ou salgados para a ceia e para o lanche. Mas o mais importante era o baile, intervalado com o jogo do loto, com concursos diversos e com sorteios. Os boletins do loto serviam depois para votar na rainha da festa, que seria coroada no final com direito a uma faixa colorida e, às vezes, a uma coroa de cartão.

Tenho que confessar que nunca gostei muito de dançar, mas no Cubal não havia como escapar a estes bailes. Entre aqueles de que me lembro melhor destaco o baile de finalistas do Colégio Eça de Queiróz em que participei também como organizadora. Fizémos mesmo um ensaio, em minha casa, para nos prepararmos para a valsa inicial. Os pares já estavam definidos. Entrámos na sala dois a dois, as meninas todas elegantes de vestidos compridos e com uma flor branca no cabelo e os rapazes com o seus melhores fatos. Ainda tenho fotografias desse baile e recordo-me mesmo de quem foram a rainha e o rei.

Durante a semana o clube da cidade era utilizado como cinema. Dia sim, dia não passavam um novo filme. É bom recordar que nestes locais se assistia todo o tipo de filmes. Lembro-me que na altura os meus pais ainda não me deixavam ver filmes para maiores de 16 anos, porque ainda não os tinha, mas via todos os outros. Por isso, tive uma formação muito eclética em termos cinematográficos. Lembro-me de várias séries de filmes, como os da Rita Pavone, da Marisol, do Joselito e de um outro actor italiano que já não recordo o nome, mas que era muito popular. Para além destes, mais próprios para cinderelas, também via filmes de cowboys, de mosquetereiros, do Zorro, etc..

É provável que numa destas festas a minha mãe tenha levado um bolo que fazia com muita frequência - o bolo de milho. Hoje quando faço estas receitas fico espantada com a quantidade açúcar e de ovos que levam, mas a verdade é que são esses ingredientes, juntamente com a utilização de manteiga de boa qualidade, que dão a estes bolos um excelente sabor. Tenho que confessar que cada dentada numa destas fatias me remete para uma outra época, sem com isso ser transportada por qualquer sentimento de saudosismo. Afinal através da realização de um simples bolo temos a possibilidade de regressar ao passado sempre que quisermos.

Mas regressemos ao bolo de milho, para o qual foi necessário utilizar os seguintes ingredientes: 400 g de açúcar, 100 g de farinha de milho fina, 7 ovos, 120 g de manteiga, 2 colheres de café de fermento em pó e 1 colher de chá de essência de baunilha. Bati muito bem o açúcar com a manteiga, a qual tinha sido previamente derretida. Acrescentei os ovos, um a um, batendo bem entre cada adição. Por último juntei a farinha peneirada com o fermento e a essência de baunilha. Bate-se bem e leva-se ao forno, em forma untada, de preferência também forrada de papel vegetal para cozinha. Embora o tivesse feito numa forma redonda penso que o mais seguro é fazer em forma de bolo inglês forrada. Coze em forno médio, durante 45 a 60 minutos, tendo o cuidado de não o deixar cozer muito.

Comentários

Tuquinha disse…
nunca conheci Angola...mas lendo o que escreve dá vontade de voltar atrás no tempo e fazer parte dessas memórias...
e esses bolinhos...
beijinhos
Fa disse…
Estes bolinhos levam sempre grandes quantidades de açúcar e de ovos, mas às vezes é difícil resistir-lhes.

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